domingo, 30 de dezembro de 2018

sylvia plath / papoilas em outubro



Esta manhã nem mesmo as nuvens entre o sol podem pôr estas
     saias.
Nem a mulher na ambulância
De coração vermelho a florescer assombrosamente através do
     casaco –

Uma oferenda, uma oferenda de amor
Jamais pedida
Nenhum céu

Esmaiado e em chamas
Pondo a trabalhar o seu monóxido de carbono, nenhuns olhos
Estáticos, em sentido sob chapéus de coco.

Ó meu Deus, o que sou eu
Possam as últimas bocas gritar alto
Numa floresta de gelo, num amanhecer de centáureas.


sylvia plath
ariel
trad. maria fernanda borges
relógio d´ água
1996

aqui, 
onde tudo pareceria impossível
torna-se capaz
imagino quão difícil és que a barra está pesada
mas pense teu corpo equilibrado
o pensamento acima das nuvens aonde o calor caminha
aqui seriam colhidos tomates e o adubo tua semente
teu verme remoendo as histórias
a balsa embarcada e o mar atravessado
imagino tuas mãos dormentes e teus pés ressecados
teu umbigo inchado teu cheiro mistura
acredito na química nos corpos na possibilidade
da gente correr daqui
de onde pra onde?
alguém perguntaria pois tudo corre
até essas palavras percorrendo
tua boca

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

escrevia

quando lhe falta amor corre aos poemas
e quando lhe sobra corre as manhãs

os ciganos lhe concederiam um cálice
de vinho em uma bandeja de prata

e as avós te diriam anedotas, as crianças,
essas continuariam brincando

teus dedos tem sabor de livro
o hálito desconheço teu hábito diário
tuas roupas despidas teu carvão na unha

do pouco que sei é muito pouco mas leio em teus olhos fugidios memórias póstumas

leio teu ombro e encontro o sol e encontro o céu nosso céu encostado

faz mais desse teu artifício incandescido pois a manhã tem renascido
quando lhe falte amor recorra

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

cherry

antes de nós camaleões mugiam
pontes safenas antes de nós
no banco ao lado da porta
mais uma poção de batata
para encher nossos vazios
mosca no vaso e sabão de coco
éramos descolados para a época
no passado podíamos
rir de boca aberta
e comer e dançar
como quem brinca
de ser grande e maior
na quinta feira podemos
ir ao parque
ir ao castelo
e ir onde quisermos
depois disso voltávamos para casa
as manhãs surgem antes de nós
os olhos atravessados
antes ter de ir ambora sozinha
mas antes disso as cabras dão leite
e o homem planta o que colhe
as moscas pousam e os ratos roem
antes de nós tinha eu e tem você
antes de mim sou eu

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

exageraaaado jogado aos teus pés


me veio a Chigres dizendo que não devia botar letra de música em poema. eu queria cantar; exagerada, em sala, os alunos me ouviam, minha voz gemia de dentro, tudo gelado e eu num arrepio findo o poema. todos me olham e a Chigres revida o olhar, a mim não sei onde enfiar, penso em coisas lá fora, lembro de fazer xixi, há quem ainda me olhe e meu olhar não sei o que fazer agora. desço as escadas uma a uma, pego um cigarro e fumo, converso, tomo Sol e vento de árvore. voltar para onde? rodo a catraca, chego no ponto, peço que me dê uma longneck, rio sozinha, que horas são? lá pras quatro e vinte acendo o outro cigarro, vejo a vista me avistando, sorriso de novo, sinto-me imensa e me comovo, me comove. exagerada.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

poema

todos esperavam pelo poema número um,
que cedesse lugar
as premiações,
as cadeiras,
os vips,
as canções
aguardavam em algum lugar,
na ponta da mesa,
no ferro do poste,
no meio da cama
trocavam suas notas,
envernizavam os olhos,
pediam silêncio sem parar de falar
dizia-se que linguagem não dizia tudo
mas não diziam nada
além disso aguardavam o poema,
tinham esperança no poema
o poema e eu ficamos aguardando em silêncio 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Vó aos 99 Alzheimer

a maior descoberta é a da mente,
através da melodia vou girando,
Mãe e Pai todos girando,
minha cabeça doída
temos dormido
eterna fantasia
a mente
esquecida... 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Y

avoando a busca de alg----na imensa massa desgovernada de ventos
seria possível uma imagem foshhhmagética/ provavelmente somente alguns desgovernados avoando
decerto pois: olhava pra cima não como quem pretende a prepotência dos altares mas: decerto sentindo a pequenez de meu semblante
avoava vergada, os autos a busca da cena imperfeita meu dia desforme 
era impreciso ? o que se busca ! mas a nuca pendia meu corpo elevado ao teto lunar
àquela hora os desavisados estariam tomando café com pasta dental e outro cigarro acendido o tédio aparentemente passageiro
mas tão certo (quanto o rumo das nuvens) era de que por certo encontraria em mim (passagens de uma cena obsoleta) 
retornaria ao chão quando pendesse a cabeça ao travessão
----- procurava meu nome nas 
es*tre*las 

vem até mim

malemolente 
escrevo 
suave 
palavras 
esparramada 
sob seus pés. 
cheirinho 
de mansinho 
dando carinho. 
ai menina. 
fica distante não
fica bem 
pertinho 
eu bem molinha/bemperto.eutomesentindo/tesentindo. 
me olha bem 
vem mansinha 
devagarinha.... que bom 
você
por aqui 
fica bem 
mais 
muito muito

Tangerina

Hoje sonhei que acordava
Assustada
Se afundava dentro das lentes
De águas cristalinas

Meu bem fazia poesia
Cheirando a rosa tangerina
Cheirando a flor menina

Sonhei que me acordava
A meia luz que a noite estava
Seria sonho menina?

Quando acordei
Fui acordada
Por flor de cheiro menina

domingo, 9 de dezembro de 2018

puta que me pariu

eu to cansada dos poetas
e eu achava que não era
que não seria um deles
mas eu também to nessa
de saco cheio dos poetas
e eu que tenho útero
de saco cheio dos poetas
de suas falas piegas
de um jeito de recitar
como quem se declara
uma nova era
os antigos e novos poetas
tudo ultrapassado
tudo adiantado
é tudo poesia pra caralho, buceta

enquanto estive perdida achava ter encontrado algum resquício de companhia

corre as horas discutidas
a gente se esbarrando
poesia surgindo,
de bandeja,
escorrendo de algum lugar
soturno entre nós

você me diz que nós
não existimos,
que sou eu falando por você
e me pergunta de novo
algo que eu não disse

você me empurra,
engole e vomita sangue,
diz que não gosta de mim
e de você?
eu me pergunto se gostaria

dessa vez não peço desculpas
nem a mim,
de sonho lindo
sabemos que o próximo bar
é mais um pesadelo,
nós sabemos sequer existimos
mas você insiste em dizer
que eu não disse nada

você insiste em não ouvir
e ainda faz perguntas
você é aquele porre
você é acordar e sentir
que o mundo não está seguro 

terça-feira, 27 de novembro de 2018

transa

o que farei com a ânsia
de te procurar
procuro um livro?
e eu que não sei qual título
delegaria ao trama
e qual capa serviria
pra te parar
na esquina
voltando do trabalho
seguindo o olhar
você segurando um cigarro
em dois dedos
e me olhando
como quem pergunta
por que veio?
não sei o que respondo
então me deixo voltar
os olhos as páginas
lambo o dedo
viro a esquina
me faço de desentendida
mas a verdade
é que falta entender muito
por exemplo
porque você se faz
de desentendido?

segunda-feira, 26 de novembro de 2018


99. 
Memória, bagagem, crochê, a senhora e eu no balanço.Vó eu vou te escrever mais legível para que me lembre, depois. Parece que nos
es
que
ce
mos. hoje ainda fiz uma foto lembrando do paraíso e do futebol; e tu que navegava distante? vó teu grito. Teu silêncio. Escuta, 
sua neta veio beijar você. Sim, sua neta, minha filha. Pele e pele e mais pele... 
Lembrarei de sentir saudade,

terça-feira, 20 de novembro de 2018

estranho seria se eu nao me apaixonasse por teu tudo, tudo pintura, teu céu mercuriado, teu jeito de sorrir enquanto nao sei se chora ou se sorri mas a mim soa uma felicidade indiscreta, obscena. teu vão entre as pernas e as palavras, tua parole infinitiva, teu suor petrificado, teu significantismo.

toda vez que meu estomago embrulha feito presente se abrindo me pergunto quem é? 

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Travesso

por todas as estantes 
devo ter estado dedilhando 
o recôncavo do teu rosto reclinado 
na marquise ao fumar unzinho

eu que nunca mais vou dormir 
a dormência de uma criança que nasce 
morta dentro de poemas melindrosos 

você nascendo na década de 80 
e eu descobrindo os leões aos 12 você 
tentando dizer eu poesia você surgindo

ele trabalha aqui dentro dos livros 
dentro desse livro que você decide 
comprar você descontraído ao lado 
dos outros você correndo para repor 
o estoque você de costas aguardando 
alguma dúvida

mas você sabe que eu seria incapaz 
de chamar seu nome se não for 
para falar de amantes ou para discutir 
sobre o peso das horas oleosas 
do teu rosto reclinado enquanto fuma unzinho

sábado, 10 de novembro de 2018

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

De volta aconchego entrada

hoje falaremos lentamente de histórias do pretério mais do que esgarçado a carne e dente as bagagens 

desse angulo a gente tem comido os leões as leoas mostram os dentes e o bando transita de bipe

a ponta da janela relampejos o espiral das ilusões consumidas a moda boi e foi assim que achamos por acaso descobrir pela cerca as cores o verde ao vento

o desfazer das caixas envelopes identidade trocada diario riscado três ou mais nomes é por ser incontável que a memória se reduz ao cérebro

na cuca um poema pra findar a noite assim se fosse um parto prematuro estagnado no tempo o poema estaria pronto para respirar as próprias lágrimas contidas na placenta

faz tempo que a gente se esqueceu de retornar e ver o que aconteceu se por acaso ficou ou permaneceu ainda no esquecimento as coisas breves

a vida vem e volta lentamente as historias as mãos entretantas viagens infíma retorno ao útero

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

em tempos de angústia, caio em fernando abreu

Eu ando criando dentro de mim uma expectativa tão imensa, tão viva, de coisas boas.

gratidão

por mais que escreva poesia ainda sou tímida o bastante para verbalizar meus sentimentos, mas sou muito grata por tudo e por nada. gratidão, sinto muito.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

acalmante

fico a espreita de um poema
de tua publicação,
sei que os rumos desse país
tem nos deixado orfãos
desamparados
provavelmente teus poemas
estejam ocupados em gritos
urros
inalgurando um novo
sistema ou politicagem,
veja meu bem,
escute pois te digo
só amor e arte estejam
comandando os papéis
nos vejo próximos nesse instante
mas ainda assim quando me vejo
a espreita do mundo
e dos olhos estupefados
tento recorrer aos poemas
e os reli tanto
que soam automáticos
quereria algo inédito assim
como são os teus poemas
agindo sob meu corpo
um antiinflamatorio pois,
acredito que não seja novidade,
estou inflada
é só um processo
de dores internas
me esmagando contra a cama,
e quando abro os olhos
depois de ter dormido dias e dias,
estou a espreita da tua poesia
servindo-me
dizendo
tire-me
dessa anestesia.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

CU

aliso meu cu
e cheiro a pontinha
dos dedos
e sinto um aroma
adocicado 

isso ela me disse
meio tímida
quando me provou
inteiriça
de incertezas
lambuzada 

cu é uma palavra
adequada
às menções
entre-abertas 

acho que amanhã
se não
por acaso
acordar
 
pior será
mesmo
mas será
mesmo?

leio
poema
faço
cocô
olho
meu
rosto
transtornada

os gritos 
de irmão  
irmão 
de ver mãe 
tremendo 
enquanto acende 
um cigarro 
e coloca o fumo 
no cachimbo 
eu acendo 
eu preciso dormir

tem grito lá fora
uma galera armada
decide bater panela
soltando fogos da janela

e decidiram isso
assim como se descobre
um novo paladar
em uma coisa antiga
chamar
de revolta

meu cu!

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

aponta

queimem as suas toras,
nos calece
de vinho
ate o dia raiar

abrindo a boca
engasgando o mundo
da garganta suar

de tanta mania
de assistir
o mundo manifestar

até pode passar
o tempo
lembraremos mais

e falaremos mais
e mais ainda ânsia
o mundo manifestar

onde Mario está?
mas vejo la na frente
o sistema nos comendo

dos vestígios
das sobras
e aí, do nada

há indícios
há de recomeçar

a ponta
dessa estória
o mundo manifestar

domingo, 7 de outubro de 2018

a solidez das palavras

nessas impávadas horas amenas
esquivo-me da politicagem
de
repente
de 4 em 4 horas

talvez por dentro
da casa
a gente se esqueça
do mundo
chovendo e enviando notícias

sei do sangue
estagnado
que corro
que talvez
sejamos memória
e devagar o apagamento
de algumas coisas que achávamos ser

o que nos é
não permanece
somente
em nós 
só se compõe também
quando estamos no outro

dormi durante 2 dias
sozinho
sei não estar
ainda acordo
mais acompanhado
desses pedaços de mundo

sei que nos
encontramos
na rua
fumando um cigarro
a boca cheia de poesia à vapor

as palavras
ouvia
soavam
qualquer banalidade do dia
mas ali não estávamos ausentes
nem um nem outro

e todos
juntos
ao mundo
girando como se gira
de um modo tão ameno quanto
essa noite

descobri que banal
era não estar
sozinho
pensando
entre nós a poesia
ainda somos solidão até nas palavras

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

À

(Ààà)

se por hora estamos
a base de um reprise

(Ààà)

dentro de um enredo
de um filme brasileiro
estamos a cores

(Ààà)

isso sei pois vejo os primas
posso até calcular a dimensão
da íris tocando a boca

(Ààà)

pergunto teu cheiro
e a resposta vejo que trafega
no trago de outro cigarro

(Ààà)

se por conta da ficção
talvez na pior
parte da história 

(Ààà)

feito heróis
possamos nos salvar

(Ààà)

iremos festejar da morte à vida
feito se não existisse espaço
para a cautela do tempo 

(Ààà)

encontro-me
à. teu repertório
puramente coexiste

(Ààà)

assisto mais uma vez
o evaporar das horas

*a a. ao tudo e a 

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Lévi-strass

Nao sei se me esvaziei
Se foi por deslize
Mas quando virou-me nos olhos
E mostrou-se esdrúxulo
Posso descrever teu ritmo e a batida que faz te ouvir
Posso te sentir como miragem ao beber a àgua
Estamos em reprise
Não sei se foi o gosto pelas cartas
Mas gosto de repetir João
E desse gosto deslizando pela boca dizendo de um pedaço do mundo erguido na boca
Foi assim que descobri que o silêncio era mais sensível ao que dizia
E que o sabor da àgua João escorria

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

olho pro mundo e o mundo me olha em silêncio

fui descrever 
um poema tardio 
nao sei se dizia da hora
ou do tempo no mundo 
disponível pro poema

tive tempo de correr 
da onda arrastada 
pro fundo
por colher amoras 
no quintal amarelo

fui olhando a cor 
daquele fim 
de tarde 
reelaborei meus dias

a partir das cores 
gentilmente surpresa 
por espanto descrevi 
o gesto do medo

agindo de modo 
espontaneo 
de um jeito 
como se é

foi assim fui 
fazendo poesia
apesar das horas 
indisponíveis 
pro poema de agora

domingo, 23 de setembro de 2018

sei acordar
e de um sonho
me toco dormente
averiguo certamente
delicada
simbólica
parte
dessa identidade
vai se recompondo
depois de um sonho
talvez ainda esteja em mim
talvez estejamos nele
talvez não estivesse
mas parte disso
faz parte do meu sonho
fio de pipa
certa vez fui brincar
e acabei crescendo
por partes
eu acho
porque as vezes digo
e quem ouve ainda
ri como na infância
então sou eu permanecendo
acordada?
estou em mim assim
reconheço ser meu o corpo
meu sono
desse jeito as coisas
tangíveis e bem simples
é quando me encontro
ou acho que
não sei
mas sabe? sabe-se lá
nos encontramos 

sábado, 22 de setembro de 2018

sonhei com a aula de português

hoje sonhei de manhã o que é locução às pressas
explicava de repente o livro de língua
que é a junção de palavras
fui aos adjetivos então
pois eles davam uma característica
tentei pensar no dia
para encontrar exemplos bem simples
devia ser então acordar com sono
escrever a poesia luz do sol
e estudar por emoção
De antemão
sonhar com alegria
sabia que podia modificar as palavras
pois tinha visto no livro de páginas
que através dos advérbios
era simples mudar as circunstâncias
de tempo; -
de modo; -
de quantidade; -
de afirmação; -
de negação; -
de dúvida; -
de intensidade; -
de causa; -
e de lugar -
fui desvendar
a locução que dizia
que eu devia acordar
quanto ao tempo
isso aconteceria alguma hora
de um jeito bem cedo
eu ouvisse uma voz de verdade
por completo sem voz
de que estaria sem dúvida
e que estaria de jeito nenhum
tão em um sonho quem sabe
em um sonho por demais
e acordo
e troco de lugar:
com mistério deito a cabeça de sonho
e descubro dormitar

ser/estar

sou
somos
devagar
fui vagando devagarzinho
vagarosamente
vaguei
eu tô perdida
+ acho que tudo bem
estar de mal
isso não passa
de um estado de carinho
por nosso estado
por onde fomos?
as vezes eu gostaria
do meu modo de brincar
e das rosas de amor
e as vezes sou
por vezes somos


de manhã

existe alguma coisa muito boa
que a gente as vezes sente e de verdade
a vida vai ensinando bem rápido
as delicadezas de um jeito bem devagar
por inteiro a vida de carinho
de brincar e de dormir
a vida sem dúvida ensina por alto
de frente de esperta
a vida nos pergunta
como?
a gente se pergunta
e quando descoberto
de descuido
nos encobre devagar de noite
a vida diz que recomeço
e de novo de manha a gente acorda

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

disserse

sei da sua indiferença
o mundo é inseguro
você se vê no escuro
e acha que ninguém te enxerga
você vai colher plantas
você vai sorrir sem saber
tendo certeza
absolutamente
de tudo e nada
ao mesmo tempo
e vai chegar a hora
que achará melhor dormir
mas não vai encontrar lugar
que chame de repouso
vai insistir
até dizer chega
e quando chegar a hora
vai desistir
mas vai insistir
de novo
isso é o de mais sutil em você
desvia e vira olhos para ver

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Imensa


imensa
esvazio
me
talvez ainda
não tenhamos
descoberto
largura
atravesso
descoberta
corpo
lençóis
amarelos
talvez
tenhamos
descobrindo
olhos
ontem pretendíamos
não forçarei nossos cigarros
mas
acendo
fogo
cozinho arroz
deito
penso
estar
em
um
sonho
escrevo memórias
me
cubro
versos
pergunto
aceitaria
esse silêncio?



segunda-feira, 17 de setembro de 2018

alagoas

do mesmo modo se banha
a eternidade deste agreste
em teu busto;

o mofo e o limbo
preposicionados o bafo do dia
amparados nossos perfis
transgênicos;

talvez seja deste modo
que a tempestade anuncie ventos
de palha e areia;

tenhamos talvez na incerteza
das interlocuçoes
suspendido o diafragma
e engolido poemas;

tragicômicoss 
desenfreados;

e no percurso
o cisto recai ao parabrisa
e a gente se lembre de estacionar;

deste lado do agreste alagado
na beira do olhar;

sábado, 15 de setembro de 2018

Fernanda

ainda que todos os poemas te falem de Sol ou da manhã,
e se delonguem
voce descobriria que novamente o sol falará sob ti
e por viver sob o Sol
teu rosto largo se alogando num sorriso e se os poemas o Sol e a manhã são por tu metáforas
quanto a ti poderia criar todas as abstrações possíveis
se fosses Alice,
Clarisse, e A maior mulher do mundo,
ainda serias Fernanda acordando o Sol ao sorrir longamente
delirando de Sol amanhã

terça-feira, 11 de setembro de 2018

teu poema de saudade que me chama?

ele retornou no quinto dia útil
portando um sorriso 33mm
próximo à terça da paixão.
quando do alto a gente
estendia os braços!!
e seguia vagalumes,
o vermelho das caras
estampavam as cores do bairro,
era alvoroçada tal fugacidade
desnaturada de cavalos-marinhos...

quando voltou àquela hora
já fora tarde para dizer que esquecera,
os poemas prendidos na língua,
recitava como quem descrevia
um quadro largo na mesa do jantar.

dizia da languidez do vulcão
que parecia ferver por debaixo
dos panos mastigados,
parecia sorrir sem hora precisa
como um gatilho.
e me mostrou com os dedos
o mapa escondido bem

na bordinha do céu,
e os olhos de ver tamanho mistério
desaguavam estrelinhas...
sinto uma grandeza de narrar
esse encontro/essa chegada
pois descobrira coisas
encolhidas no verso que fazia
ao estirar a boca.
revelara que o rio não somente flui
como navega em si
e jamais retorna
que às vezes o bonde é transporte
de saudade,
que o gosto gelado de inverno
queima a oleosidade dos cabelos,
que o mundo...

ainda descobriria

retornaria como quem envia
uma carta às pressas,
anunciara chegada.
ao certo, sei quem és,

mas certamente só através da experiência

e há de se saber que por experiência
decerto não sei. quem és?

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

límpida

sinto teu sabor banho de lágrima na memória respirando em minha boca,

quando me disse do cheiro de cigarro impregnado na despedida, quis dizer que teu cheiro não era a fumaça que deixava no quarto pela janela trancada,

quis te dar um trago, mas fui embora pelas 7 a fim de nao te acordar com minha tosse,

temo demais ser a confusão em tua cama, e que teu cheiro se confunda com meus olhos,

e gosto desse sabor aguado de fluidez quando a gente se esbarra, ou quando teu ronco delicado me faz sorrir,

e se disser que sorrio é porque no teu colo me banho de calor do corpo sentindo, e se disser o que sinto estaria entregando o porquê de chorar junto ao teu cheiro,

domingo, 26 de agosto de 2018

Foed as Chammas no céu, tua assinatura lambendo o papel

No tamanho dos meus próprios sonhos, Vou riscando a felicidade, talvez a velocidade seja de um cometa Harley oh Daryl i”m so dark dessas línguas presas no céu de fogos.

Descubro as pastas, divido o mistério entre aquilo que era seu e aquilo que te deram, e muitos escreveram a ti, as cartas, dizia delas e as guardava? Não sei se foram todas, Mas as encontrei na pasta azul de elástico frouxo

Até que um tanto esotérico, e que fazia magia com as palavras. Era possível que te encontrasse só depois mas te achei no exato momento de abrir teus passos/passado/que nunca vivi, Mas pude reviver

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

neopósultracontemplativa

uma gota de vácuo me invade com a delicadeza de uma transmissão de rádio

sintonizo as tantas vezes
que me peguei
de repente
alheia
à toda imagem
à luz do instante

recordo minha face
nesses instantes
raramente recordo
quem fui
e corro ao espelho
reconhecer
uma nova versão
amiúde
meu sintoma

desaprendo
a existir
existo
e isso não anula o fato
de reprisar a morte
e acho que é puramente pelo fato
da existência se opor à

há vezes a gente confundindo a dor das gazes com o vazio intermitente

e quando soa o ronco de volta
à sobriedade
lançamos copos e dardos
assim inconformados
que chegue alguma hora
somente indício
à realidade

isso não anula o fato
de contemplar serena
desapontada
meu retumbante estado
instaurado no verso de agora
o seguir das horas líquidas
[Bauman diria que é estado de permanência
mas sou eu mesma que estou dizendo]

enquanto escrevo
esse poema
de memória
penso talvez
tenha pensado escrever
sobre os litros do boteco
d'aguardente
convocada
pelo mundo
gritando
estar cheio
e eu encharcada
literalmente

Por Terra

fomos mal recebidos. fico sem saber o que dizer, outro dia me disse o menino que era impossível Onde? não me diga isso menino. você é um menino ainda, é que é impossível desconsiderar Onde? bem... fico sem saber direito, daí é que vou pro outro lado e acho que me sinto confortável, mas as vezes queria era sair feito louca, assim feito como falam por aí que são loucos varados. é que já saio feito louca. é que já sou, mas as pessoas ficam dizendo Onde? sei direito não. nada é assim tão bonito feito quando encontro na poesia um suspiro, quando olho pra cima e o teto todo brilha de cor alguma do dia. assim eu gosto de ficar, de cabeça pro alto, nas nuvens de teto a mirar, pra modo de interagir com o mundo. tá olhando Onde? devia ter olhado pra cima o homem quando se achava gigante, fez as guerras, querendo uma paz assombrosa, e recebeu um trono de lata, o homem é pequeno que mal cabe em si mesmo, quer invadir, quer tomar lugar e quando a gente abre Onde? os olhos! vê que foi mal recebido.

ainda bem que depois da chuva o céu abre infinito.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Gosto

Gosto

Gosto do teu jeito de fazer poesia

Da poesia em tu

 

Gosto do teu cabelo leãozinho

sob o Sol ou sob o teto colorido

 

Ainda gosto mais quando vejo a poesia tua boca

dizendo cores que não sei são quentes/frias

não sei dizer o que gosto mais

 

Mas gosto da poesia em ti

 

Toda hora do poema bom ao ruim

mesmo sabendo que tua poesia é boa

e eu sei lá de poesia ruim

mas quando falo de você

é tão bom quanto poesia boa

 

E te escrevo um poema espero estar bem

pra dizer que bom te ler e te ouvir e te descobrir na poesia

 

Todas as cores de um poema pro fim da tarde

de todos os gostos

tua poesia letárgica

enquanto o Sol a gente sabe se lá onde nasce o Sol

 

Mas todo dia a poesia quente e fria e tua boca adormecida

falando poema como quem descobre uma nova cor

 

Gosto do seu tom que rima

Gosto da métrica descobrindo espaço

 

Seu lugar no mundo

o poema teu gesto

gosto desse poema

teu feito pra ti por tu


quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Não são apenas teus olhos

Mas o jeito como se espreguiça por o sol dentro do Mar espelhado neles

O modo como vanguarda o jeito da rua, e os monumentos, o jeito de achar lugar Onde há?

Não são teus olhos só

Mas vendo-os oblíquos à estrada vejo que perdida é um sentido muito diferente do que se vê

Então se pergunto Onde? Olha só você diz

[Procuro lugar Onde não seja apenas teus olhos]

Ainda quero morrer de amor

Ainda escrevo cartas

Entro, os olhos, na janela

Espantei as muriçocas
com a fumaça
viajei viajando

Ainda danço
qualquer coisa
e ouço

Vi coisas que não tinha visto

Despi
Banhei

Tem dessas fumaças de energia

Tem muita coisa bonita
e o mundo

Tem dessas peculiaridades

Sabe o tumulto
na cabeça?

E quanto à gente
há tranquilidade?

Assim como se estivesse
fazendo um poema de amor

(Dormir em poesia)

Fazer bolo de chocolate
com coco

Água
no corpo

Que delícia
sentir a poesia

Durmo
acompanhada
sinto teu ronco

(Há fome de tudo)

O mundo cabendo na boca

domingo, 12 de agosto de 2018

Luar crescente

eu adoraria se você ousasse
feito se por descuido
descobrir minhas mãos
das luvas, apontando à teu coração
e se digo que ousas pensar
em atrever as mangas
colheríamos as doces
no quintal do silêncio precioso,
daríamos um carinho na pantera,
e as mãos carícias, dadas
que sequer descobrimos,
adoraria ver a cor do teu semblante
quando provasse as palavras
escorrendo dos cantos,
das orações, as mãos unidas
no alto de uma rocha vermelha
você adoraria o tom da tarde
quando formos embora depois
da primavera atordoada,
assim, desde que você ousasse
desnivelar a altura das realidades,
estaríamos de mãos nuas
acenando à Lua se pondo
dentro dos corações

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Tartarugas Ninjas

Falo de uma cisma de lidar com a poesia, digo, de pensar de um jeito poesia, de fazer poema, transar poesia, comer poesia, poesia dentro, de lado poesia, poder poesia.

E daí caia no poético. Acho que queriam que eu falasse científico, agisse concreta, corresse de algo, e eu ali afundando.

Mas sinto o corpo meditar, flutuando; digo afundo porque é lá que nós estamos.

"os heróis do boiero" depois vamos falar sobre as tartarugas ninjas. Pesquiso a profundeza do teu olhar

Poesia.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Indefinível

Sonhei que me segurava
Por dentro dos braços

Talvez por medo que corresse
Mais pra dentro

Talvez dessa confusão
Da gente metido
Lá dentro

Sonhei que esquecia de beijar
Com a boca
Para provar teu sonho indefinido

E que riscava com os dedos
A ponta dos cabelos encarnados
Como se fosse um fósforo

Prestes a incendiar teus braços
Que me seguravam por dentro

E queriria de sonhares espremida
Viver de teus braços firmes

E pediria mais um minuto de sonho
Talvez fosse possível correr
Mais pra dentro

Se não fosse o calor da manhã
Espelhada em teu bom dia
Me lançando pra fora da cama

sábado, 28 de julho de 2018

Pensei te ler

Se acreditasse no tempo dos homens, diria que faz tempo que não te lia

Hoje falei de vaidade, Da dor dos cabelos cansados sabe, igual a gente depois de muito tempo

Se acreditasse na cidade concreta, diria que os labirintos são seus lábios, o hálito da noite, e tive o hábito de sentir recitar teu poema, tenho sua voz no ouvido 

Falei da tempestade intempestiva e do quanto a gente se desconhece ainda

Acabei falando de muita coisa enquanto o tempo passava, pedi a conta, e fumei um cigarro na volta
Pensei te ler

Amanhã

Escrevo a ti com carinho

Foi quando senti o coração pulsando de um modo muito alvoroçado, de um jeito incrível de ser vivo.

Reli as cartas, fui muito direta com o carteiro e sinto que viajei, de um modo muito lírico; como é incrível descobrir o amor nas palavras, e olha que achei ter encontrado

Acabamos sem continuar as consultas, foi tarde pra dizer que esquecia, é quando a gente olha no olho e precisa deitar pra começar a dizer

Faz muito calor, redescobri quando o calor veio mais tarde, é feito quando o destino faz calor no corpo

Faz alguns dias pra viajar de novo, viajar de avião, vai fazer calor na cidade então, gostaria de escrever mais sobre isso adiante


quinta-feira, 26 de julho de 2018

Mas fica, meu amor,
quem sabe um dia
por descuido ou poesia
você goste de ficar

Chico Buarque

E te pareço bela 
Ou apenas te pareço 
Mais poeta talvez 
E menos séria? 

Hilda Hist  

[2012]

sinto muito

saudade escrita em papéis avulsos
em sua ausência é como se eu me sentisse
uma parede pasma de um lugar vazio
um arquivo deteriorado na prateleira

a falta da sua presença
me atordoa nuvens
chorando por escassez de água
ausência de sol

quem sabe te conheça puramente só na poesia
e seu nome não seja do poeta anônimo
o descuido da sua rotina me instiga depressa
o descaso dos seus olhos me desgasta à beça

sem você sou só pouco menos do que gostaria
um pouco mais ansiosa
sem esse amor eu não sinto

[2014]

Morrer afogado em teus lábios de baunilha

Desculpa pela ruides dos versos secos, pela aspereza das palavras - só descem com a ajuda do álcool e o bolero. A lua sangrou das almas derrotadas, dos homens que jogaram e perderam a fé e a dama. Não quero demonstrar tristeza, mas homens como eu quando são golpeados não conseguem mais levantar sozinhos, o amor agora pra mim é uma diarreia. Perdoe as rugas que já traçam rios na minha pele empalhada, o jantar que esfriou às sete da manhã, as migalhas que você recebe de mim, pois já estou partido. Eu só preciso sair desse lugar medonho, dessa rua de saudade. Espero que você entenda que estou sozinho nesse barco, e eu sei, sei que você amaré, mas se viesse feito uma onda, não me importaria de morrer afogado em seus lábios molhados de baunilha. Não lamentaria a morte lírica do alcoólatra que se achava escritor.

[2014]

Outra carta para você, Carteiro

o peso da sua solidão 
me enverga o pescoço 
o carrego nas costas 
como diz Jesus 
ter conduzido a cruz 

em meio aos dedos em brasa 
descartável dentro do cinzeiro 
sobrecarregado de alheios amores 

a cada olhar malícia 
que me lacra 
cartas guardadas 
em bolsos pequenos 
para ninguém descobrir 

contarei aos seus vizinhos 
das viagens que não fizemos 
e vou socar a sua porta

eu vou roubar as declarações de amor
e assinar o seu nome
por sinal estou apaixonada 

e picharei na quina dos correios 
nossas iniciais
assim eu vejo se você me nota 
ao entregar as cartas


[2013] 

quarta-feira, 25 de julho de 2018

1.

Faz dias que eu não meço as horas, estou aguardando teu sonho chegar. Te escrevo enquanto te miro os olhos largados, desde que te vejo que é motivo para contar uma história. Essa é sua, por mais que em algum momento tenha de desviar, será seu corpo deitado sob as palavras.

Foi quando lembrei do teu grito, nunca tinha visto igual desespero igual o teu, então fiquei paralisada de temer que te acontecesse o grito por dentro maior, tremi de deixar escorrer água, foi então que constatei, pois já descobrira desde muito nova, que tu era força maior do que a voz. E tua voz alcançava muros, corpos, avenidas e até o coração sentia que pulsava mais quando ouvia teu tom, era de parar multidões, e levantar também.

Deito à tua cama como quem alcança a paz. Sorrateira descubro um canto para aconchegar o meu corpo, não nos permito a distancia por puro carinho, e descubro sentir quentura por tua presença, procuro dormir mas te ouço contar histórias. Sei da tua chegada, mas quando durmo sob teus pés, acredito que nunca partirá de mim. É desse lugar, mais seu do que meu, que eu gosto de chamar de amor. Amor simples, feito fazer arroz lavado, mas imagina por tuas mãos.

Sei do teu sonho alcançado. Sei da tua chegada. Quando a gente juntou as mãos no terraço soube que teu sono era bondoso com teu mundo, naquele momento quis fechar os olhos e sonhar também, para sempre.

E o que a gente faz quando fica partido? Muitas coisas ficaram, mas e as outra? E o que são essas coisas que ficam na gente, e o que são as outras, não sei mas porque sinto mais que muito se fragmentou e não sei se partiu ou ficou, agora eu só sinto que sou parte dessa história.

Lembro do seu cabelo da cor de uma Lua cheia, de como você dança sorrindo com tudo, do teu traço no meu vestido eu tenho a cor a sua medida, até onde nós vamos, você nos pergunta, e eu diria juntas.

2.

olha só que coisa linda essa calma do cachorro

mediante a decisão de mudar algumas coisas de lugar, pensei no meu lar
de dentro, botei Renaissance pra tocar, peguei as poesias juntinhas à psicologia e educação
depois foi a hora do suspense, e depois do romance, só mais algumas coisas
que a gente não deixa de ter, tipo aquela velha história

Jasmim queimando, poeira pra todo lado, Pierre querendo a cama vazia, onde
vou enfiar isso?
depois que a gente começa não quer mais parar, deixa essa pilha de autor aqui
quiçá a gente se lê no escuro também, assim de fora

água gelada, tem que subir o cachorro, tem que abrir as cortinas, tem que sei

quero dormir, assim desse jeito, quero deitar sob os livros

tenho que mudar algumas coisas de lugar, decidi, depois eu que não tenho
jeito,
olha só que coisa linda essa calma do cachorro

tem tanta coisas que preciso decidir mudar e decido o lugar: aqui dentro

Dorme, meu filho

Dorme, meu filho
pois a sombra 
reclinada
é somente o encosto 
da cama
deleitada sob 
teu descanso

Às tuas fraquezas
se expuser, 
rosto às luvas, 
se descubra novo mundo
na palma das mãos

Verá que dessas mãos 
dormentes
erguerá taças,
decaídas,
irá segurar o rosto 
em desespero
mas que serão gigantes 
teus poemas

E há de encontrar face
que te perturba 
se houver retorno
a solidão não será
mais somente tua
mas de um desconhecido

Quando desvendada glória
perceberá estar vencido
talvez pelo ego 
esse que te definha
talvez pelo gosto agridoce 
no caldo da boca

Dorme, meu filho
amanhã a gente sabe que virá
ontem você sabe que já foi
agora tens o sonho de um menino

segunda-feira, 23 de julho de 2018

atropa francesa de tocaia, o romance incabado, bem na sua cabeça, la dentro e la fora, uns fazem esforço outros se esforçam e tem quem deixe passar.

mas foi na praia de saquarema que contemplei uma luarada azul, bem azul luzidia. a luz dos olhos e chuva. faz sol, sei queimar, sinto tudo bem quente e azul tarde.

votos contados as horas, kilo de feijão, e enquanto isso tudo azul feito lua da praia chuvisco. quando os franceses disseram l'amor, amor acontecia no litoral brasileiro, e os portugueses diziam navegar enquanto afundavam as terras, faz tempo que me sinto colonia e cheirosa.

faz dias que os votos se acumulam e anulam meu peso no mundo. como é tarde e vem a lua de chuva me tocar. 

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Vá minha tristeza

Findo novamente encharcada na cama. Aqui a superfície parece de apoio e as costas flutuantes feito asas. Sinto o peso da liberdade,

mas estou tranquila.

Busco sentido e palavras enquanto escrevo. Estou ouço Fafá de Belém na rádio da TV, vi a batalha dos confeiteiros, uns bolos bonitos na vitrine, dei bolo a todo mundo um pouco sorrindo.

Fumei uns cigarros, de rotina, esfreguei os cabelos nas palmas umas 1000 vezes. Banal, entrei no ônibus duas vezes, na primeira a roleta me prensou e encontrei um companheiro da Livraria e tive timbre pra contar do meu presente? Fixação. Tem coisa que eu não consigo prever, e é isso mesmo…

Mais uma vez eu quetendosabendoporqur

Faz tempo que o tempo passa

Chega de saudade

Girassol da cor da Lua

E agora minha vez

Descobri a parreira da flor de uva

O silêncio do vizinho

Da forma como a fumaça gira

Deixa a gente girar

Mas é que eu tô perguntando

E agora

Escrevendo poemas

Quero dormir

Cor do Girassol Solidão

Sete anos de azar se a gente não brincar, e tenho visto que a cor do Sol tem sido amarelo ensurdecedor, faz dias que queria entrar na palavra e dizer simplesmente de amor

Feito amar a cor do girassol solitário, as razões de amar sem nitidez, mas tem lá no fundo um quê, enquanto a gente compra pai os sonhos passam, a verdade é que os loucos dizem de uma realidade ainda desconhecida, é por essas e outras que deito na praça aguardando vagar

Me leve pra fora de mim, às bossas antigas, vida ultrapassada, tem uma chama que escuta nosso choro, e faz amarelo no canto do olho, e faz sentido a gente partir

A poesia nos engole

Mandei uma mensagem

Tua poesia me habita

Sei da tua sede e do amor pelo campo

E a cidade nos engolindo

Amo teus versos

Assim como ama o vento

E as batatas da terra

Se me perguntar por onde andei

Sigo lento teus versos

Trocando papéis

Desesperada dentro da cidade

Nos engolindo

No vento do gás vento, dentro torneira sem água, no teu coração o sentimento do mundo

Foi assim que descobri no teu poema um pedaço perdido de terra

Nos engole

sexta-feira, 13 de julho de 2018

como poderei caminhar por esse chão embebido,
e tocar olhares, desviar do tráfego de mutirões,
se descubro a solidão da poesia
constrangida e muda?

é que desde nascida
que me sinto vulcanizada a pronunciar
qualquer trivialidade
quem sabe uma hora ou outra
debatesse com um Cala-te a Boca!

mas é que não me calo
porque sinto os pés movidos,
os olhares dizendo coisas que boca
alguma é capaz de declarar,
e as buzinas acenando chegou a hora
de acordar
feito se for preciso falar/

é que como poderei caminhar
por esse destino de inquietação
se por existir a vontade clamar
de arrebentar o silêncio dessa vastidão
Por amor

tenhas cavado a solidão

Tenhas dormido encolhido

no calor

Esquecido de tomar café na manhã

o faças no almoço

Por amor que tenhas renunciado

Por amar somente

estás sozinho

Compondo sobre traduções

Por amor tenhas traduzido poemas

Que te ferem

Por amor,

Amado

Estou lendo seus poemas e bocejando ao mesmo tempo e arrotando

Bebendo uma latinha, um cigarrinho, uma musiquinha, uma caminha, um lencolzinho, um ventinho,

Que não me entenda que te escrevo uma carta, porque certamente não enviarei e porque parei com as cartas

Eu disse: basta !

Quero dormir. Chega de sonho.

Você dizia das coisas bonitas com as palavras, das unhas, dos cabelos e de mais algumas coisa mas eram três que você falava e negava o que não era você:

“Duas cabines telefônicas na chuva”

Algo assim

Não quero colocar pontos no final

as palavras o tempo teu líquido

Faz tempo
que não escrevia
com essa vontade
de fazer amor

Você falando
sobre as horas e
os segundos
do tempo
que não a via

Fazia tempo
que retornei ao hábito
de escrever
sobre uma solidão
como se fosse companhia

E dai criei você no romance.

Talvez de alguma par
te do seu corpo
Seu corpo
Que beleza

Quero surtar
quando seu suor provar
Não disse de onde escorre

bolinho-de-chuva

acordei agora com o gosto na boca que nostalgia essa vontade de acordar minha véia cansada suas mãos de rugas dançando com o açúcar o cheiro de óleo quente o inferno não tem mãe

mas tô com vontade de rezar quando dizia que era Deus quem abençoe mas sem saber quem era deus quem era eu Quem

receio reler tudo e ver como está mudar as coisas mesmas de lugar dessa poesia é isso, a poesia tem me livrado e eu danço com ela como se fosse o açúcar doce as mãos de mãe

todo dia o dia não tem pressa, eu feito um cavalo em cima de mim e as vezes dou rédea pra você pra mim por nós vivo inconstante, ao passo da minha ânsia desmedida enfrento montanhas e valas

as chuvas e os bolinhos dão o traço bom que tempo algum é capaz de desfazer, o cheiro de mãe, a roupa pingando nos olhos no varal, teu cheiro de gás é um pouco de tudo o que me faz mover

as fotos e canções o bule chorando minha vez de fritar as impressões estão em cima dos móveis dos muros é possível ouvir tua voz repetida de Quem foge?

as vezes eu desisto de poesia e desisto de mim de nós mas surge um novo dia sem pressa eu assino embaixo e gostaria de ficar Quem seja com o gosto da nostalgia tua desse bolo molhado de chuva

domingo, 8 de julho de 2018

A beleza de reconhecê-lo

Gosto de escrever poema
Sobre o Sol; 
Sobre vocês;
Sobre ontem;
Tem tanta coisa que a gente deixa guardada 
Que é feito livros que a gente vai empilhando
E contando as estórias pro mundo

Quando a gente sai do chuveiro 
É feito se a água escorre
Da gente também 
Suor de choro 
Guardo muita coisa boa 
E gente de boa e faço de bem as tarefas de viver
Sem dormir escrevo poema; fumo; durmo 

Como se pudesse a última dança 
Me dou a honra de dançar até acabar 
Tomo fôlego e recomeço 
O amor é um lindo lago à espreita 
Faz dias que quero cantar
E faço grito

Que se entendam os poemas 
Mas saí de cena quando céu amanhou 
Agora digo do presente 
De;
Mais um dia 
Quando o passado passou 
De uma bela éstoria a contar 

terça-feira, 26 de junho de 2018

aquela história mal contada dizendo de novo

até o tempo arrastado
conduzia o fumo e os porres
de tanto dizer
dizia umas coisas
sem sentido,
sabe?

mas não deixava palavras pra trás
era na ponta da língua umas verdades
e se diziam
louca

dessa loucura de dizer além
como se é verdade ficção

desejo infinito
do blues
e sobreviver
além da vida,
sabe?

desse ardido de abrir os olhos

até as roupas amassado
o cheirurgindo
da fonte do crânio
uma vontade
de cantar falácias
como se amanhã
é mentira

até o tempo passa e a gente
sabe-se lá tem tempo de explicar
parece que de algum modo, em algum lugar,
outra estrela nasce desprevenida,
desde quando decidimos pensar além de nós?
árvores gigantescas palavras tudo entorno,
tudo fazendo ar no pulmão, e vento no rosto
parece que de algum jeito a gente se perde
e de alguma maneira a gente se safa
deitada na seda, o mundo inteiro articulando,
a princípio pensei ser brincadeira
e me deparo com uma pistola na boca
mal saberia dizer o nome do medo
mas sinto que me deparo com a boca calada
cinzas e cinzeiros, canos e balas,
parece que tá perdido
enquanto brinca no labirinto
tem boca que diz mistérios do mundo
tem boca que cala

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Escreva uma carta em estágio terminal

Cuidem da minha pequena. Minha menina, minha luz de brilho queimadura, bem devagarinho para não assustá-la. Dê-se à ela como quem deseja bom dia, no entanto de olhos descobertos. Quando vi seus olhinhos de sabor carícia, me tive inominável. Ache O nome para ela, e descubra infalível um desejo de existir no fio do óbito, e encare, se preciso, o inferno mitológico, e depois ofertório uma cama, líquido e calma, chegará a hora. Dela me afastei e dela eu só consigo mais perto de tudo, e me sinto muito distante, inexpressiva, enquanto escrevo uma carta desejo seus olhos imersos, submergindo as palavras, bem fundo, lá dentro, é que busco explicação. Causei-a e o mundo grita "Deixas-te às feras!'' Vociferados, iludidos pelo amor exposto, desprevenidos, os homens gritam um medo agudo, desses que inquietos e retornam a bradar, de eco. "Diagnosticaram muitas crianças" Essa dor de existir. E de gerar tão flor uma semente no quintal fervido do mundo, descalça, descanso sob o calor do meu suor. Minha menina. Tenho de ir e você sabe porque te deixo? Suporto o mundo deixando-te, ciente de que não caibo mais sequer em outro ventre, e deixo-te Vida, recorro ao que se pode ser repouso absoluto. Mas, cuida bem dos seus cachinhos, amolados por Deuses, poderia a natureza crescer tão mais absoluta? Faz tempo que eu queria dizer desse sentir agonia, e boto de dentro pra fora manifesto, desejo ruptura, desejo teus olhos encharcando o mundo de um sentir Viver. Sentir que não é meu, por isso recorro a você.

Com carícia,
cuidado com o mundo.

Mãe.

Intento

faria um som
para reconhecer teu sim
teu som e tuas cordas
sintonizo
teu cantar soando

beiro o abismo surdo
tua boca infalível
muda vocábula
retorno a ti vibrando

beiro tua chegada
feito rompante céu calado
descubro tuas notas cordiais
assim como se desvenda atentado

revivo suave ardor
dos sintomas voz sensível
quando geme sobre o mundo
calando o pranto

lamento teu coro
voz tremenda
entregue ao mundo despreparado
voz atenta

Mandei uma mensagem a essa hora

(...)

fomos induzidos a dizer

(...)

Faz tempo que digo
e me sinto dizendo de novo

(...)

Fomos induzidos a isso

(...)

Tarde agora mas sinto
por hora
é isso
resolvi dizer essas palavras
como se fosse dizer alguma coisa
isso enquanto digo

(...)

Faz tempo contar uma história
estou escrevendo uma carta
se não puderem mais me ouvir

(...)

Digo que achava estar procurando
e achei ter encontrado
pensei ter visto
mas é que as palavras

(...)

Inominável

Trova


Havia um sentir em nome de todas as palavras que jogávamos na mesa, e quando o Sol secava era de guela chuvosa a tempestade que caía por nós

Assim como trovoada de anúncio tua chegada, a tormenta da noite em torpor acima da nuca. Penso se tu sobre o céu aberto, reparou no curso da estrela Vermelha, assim como rompante teu

Mudo de lugar, transporto nossas emoções, levo uma bagagem e teu sintoma

domingo, 17 de junho de 2018

Do Sól

Por mais que você olhe, A lua não te olha nos olhos

Meu corpo

Tem uma coisa que incendeia os rostos

A música nunca cessa

Parapará

Tem alguma coisa aqui dentro

Oh meu bem

Tem dessas coisas

Enviar um beijo selando notícia

Envio teu nome

Quanta coisa guardada

Lua


terça-feira, 5 de junho de 2018

Mosqueteiro


O ocorrido veio a calhar em plena véspera de Natal, as brumas da noite, a Lua em painel romanciada, evocada por Virgem, entoava serenata às chamas impossíveis. O céu, por sua vez, tão límpido, denunciava, junto a rua vaga por lampiões espalhados pelo bairro, algum milagre ter acontecido. 

Vagara durante horas pelo sereno, das asas impelidas de agilidade, por vezes pairava suave sob algum banco de praça, ao relento, bichos enfurnados em moradas, feito paraíso construído. De uma dessas casas alto  barulho de cochicho chamou-me atenção. A voz por agudo de uma dama, sensual e polida, e o homem, por sua vez, devia estufar o peito enquanto dizia, de tom saía áspero, abrupto. 

Passei pelo espaço aberto do vidro colado ao mogno envernizado, o ambiente era de todo escurecido, exceto por uma luz que iluminava por gentileza os rostos dos românticos. Era um rapaz, estava ereto no canto, sentado; a dama, espojada, de bons modos, em uma cadeira, não parecia estar mal acomodada, talvez pelo modo como se espreguiçava confortável. De aparência, estavam cultivando o sono embutido no descansar dos olhos, ele, descansava nas feições do rosto dela; ela, nos próprios papéis de parede. 

Sejam por avenidas projetadas no relevo do rosto em contraste com a lamparina, seja por roupão com cheiro de naftalina ou pelos cabelos ao suor do encosto impregnado, ela aparentava mais jovialidade, no entanto, planejava um sorriso brando, possuía um jeito de olhar senil, lambia os lábios como quem se deleita. 

O rapaz esquálido, com olhos de profundeza bravos, deslumbrado com a imponência do verbo, titubeava, parecia em Virgem estar regido, e pelo modo como se entusiasmava, havia um interesse instantâneo naquele olhar bem fundo na dama trajada de íntimo, que a fazia mover-se ultrajada, entretanto de um ânimo em delírio, gozava em suspiros. 

Pousei sobre o livro posto no braço, os Três Mosqueteiros. Era decerto um ser inconsolável. Da-li por adiante tive a visão dela se avizinhando, de pele aguada, cheirosa à mobília antiquíssima, escorou-se de lado, nos tocando por puro atrito. O rapaz sofria de um súbito romance, os cílios trincados, àquela hora esquentara, havia sido acostumado às leituras de romance. A dama se fazia cumprida ao dedicar as palavras, e o juízo do rapaz, ao pé do ouvido, soava como um grande mistério. 

Passado o tempo do ócio, de monótono gesto, inclinara-se rente prestes a tocá-lo em palavras com a boca em gesto de língua, mas de súbito! zuuumbido agudo despertou uma sensação de desconforto. Pairaram os olhos sob meu corpo, e descrito um sentir deslocado me invadiu pelos olhos, olhei a lamparina e desejei a luz lá de cima. Tão passível quanto entrara, movido pela paixão, deixei que o desfecho daquele romance fosse escrito apenas nos papéis daquela casa alta. 

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Erva

Estamos deitadas ardendo
Sussurra algo lá fora
A vizinhança dormindo mas um som
De ouvido grudado na janela
Não estamos sozinhas
Então você escapa pelo buraco
E deixa o cheiro por todo lugar
Proibiram nosso amor
Algo lá fora reclamando
Do nosso perfume
E a gente sorrindo
De suor e cabeceira na cama


terça-feira, 29 de maio de 2018

Imagino que sejas

Imagino que sejas um sonho,
lembrei de quando sorrimos distraídos
parecia beijo entrecortado
a gente parou e pensei no quanto
a gente é um pouco triste por sorrir assim
e senti alegria, sei de tua alegria

Imagino que sejas um sonho,
quando a gente se leu no escuro
só com o tom da voz ouvi teu medo
e tive medo de ficar em silêncio
mas nós ficamos o tempo todo

Imagino que sejas um sonho,
quando vi teu olho fazendo ternura
pensei que a mim sobrava o mel
derramado da boca do mundo
então de paraíso tenho o gosto
que pensei ter provado

Imagino que sejas um sonho,
quando te esbarro e quando
pergunto sobre a manifestação de hoje
é preferência por teu gesto
e torcer o rumo

Imagino que sejas um sonho,
enquanto recito as palavras
que te acordam sob a forma de poesia
enquanto te imagino ouvindo
o tom dormente da minha alegria

domingo, 27 de maio de 2018

estarei no banco ao Sol
acordada pelo ronco das vacas,
rodeada de frutos, do seu gosto

refaço seu caminho, ao meu encontro,
por adivinhação, que virás
antes do Sol deixar o banco
e antes de mais nada,
te enchergo em silêncio,
apenas as folhas murmuram,
tua chegada

nossos olhos se acham
e você senta ao meu lado
feito se fosse segredo nosso lugar

permaneceremos de bocas imóveis,
de repente, quem segura minha mão
é a memória, quando escrevo sobre teu caminho

tua boca diz coisas que não posso prever
o contemplar do silêncio no banco do Sol
o gosto de Janeiro maduro

feito se fosse secreto estamos sozinhos
tem vezes que te espero acordar, sonho bom
é de tua chegada anúncio, solidão 

Gozo

deitado na cama pensei nos caras, nos volumes de seus bolsos
de manias do olhar de lado, e foi assim que conheci Jorge,
na Travessa, de mãos dadas, esperando o filme X men
a gente foi direto pra Botafogo
encarar o mar de frente e costas
e aquelas costelas, o gosto de Brasilidade
escrevo no livro azul que me deu
depois foi depois do bar
as amigas cheiravam Arruda
foi que depois do banheiro reparou minha boca
e quis beijar de lá a gente foi pra cama
e perguntou se eu estava feliz
fui embora pela manhã de domingo
outra vez foi bem amado
mas a gente não podia tocar mais dentro do que carinho
e do nada a gente foi findando
foi tocando a flauta que aprendi tocar
seu corpo de urso, seu gato selvagem
de frente pra Cristo
sinto-me pureza, amar de braço aberto
foi que escalei e encontrei o mato torrando
acreditei ser tremor um sentir incontrolável
e agarrei teu peito, rígido e tenso
depois foi um acidente
subir lá em cima, correr atrás, ir depois
tanto de sede insassiavel de provar
mais Raimundos pelados in  Rio
mas é que por imensa vaidade e delicadeza
me sinto solitário no quarto
mas é que por me sentir sozinho e ter de lembrar
dos outros caras, me ache mais sozinho ainda
deixo-me tocar como bem queira
é mais gostoso me amar sozinho assim
escrevo, sentindo, com os dedos, um poema de orgasmo

domingo, 20 de maio de 2018

Grãos

1.0

cheguei à praia, uma coisa frenezi, uma tontura de chegar, a margem parecia descrito um campo desfrutado, submersa, digo, inteiramente imensa, avancei a superfície, e de súbito Uma onda encharcou de manto uma metade espessa do corpo. De espuma grama e sal Bem que arranquei uma âncora e nos pés uma corrente de corais avançou-me, bem certo que de espanto afundei de boca aberta. gosto de gostar um gosto azul do céu do dia da praia, quando finca a cicatriz na camada da pele, faz sol que tem gosto de verão na boca, quando a gente avança A distância fica maior, mas tem vezes que o gosto da terra é de um Açaí Maduro, e a infância um destino

escrevo em prosa sobre essa onda, e sinto não ter chegado além do sentimento, e me senti indescritível por que há Não poder tocar nas palavras O mar amortecido, o que é que diga Sinto muito. volto à imagem da praia seca, descrevo molhado a pele Em instantes, grãos macios, nuvem erguida e embarcações, mais distante do que eu, o corpo

guardo no bolso o jornal aguado, e as letras uma fotografia

vejo o mar e as pedras, Duas bocas, os beijos, aos berros, de espuma e uma alegria me confunde com ? procuro palavras. sinônimo de tristeza é esmorecimento, e por não me sentir triste Acho que o sinônimo do meu sentimento não tem nome. mas decidi dar nome à praia e digo imagine Se a gente fosse dar nome a tudo que encontra, achei curioso que tivesse decidido dar um nome à praia e soube que era vontade de denominar o que eu sentia, e achando lugar nesse nome, acharia meu lugar no mundo. mania achar que no mundo eu tenha nome e não ache lugar, mas pensei ter encontrado nas duas juntas um só sentimento

2.0

que susto foi quando te perdi, e sei que quando digo que perco Falo da tua parcela tua fratura imagina praia Grão a Grão e tu o grão de metade da praia, então faz parte a gente se sentir partido, sentindo deserto em frente ao mar É que seu corpo foi lançado Então estou me perguntando E você? eu sinto lá no fundo. reencontro

as vezes costumo contar, fazer as contas perder as contas mesmo que, voltando à infância, tenha sido dispersa quanto aos números, mas eu conto os dias Quando vi numa notícia números maiores do que calcular nos dedos, vi os números dois mais dois ser dois dois, mas é que somando achei que dois números juntos fosse outra coisa, e tem dessas coisas que vão além dos números

4.0

(...)

5.0

sabe quando se descobre um cheiro novo, e sente mais do que dá nome, é feito assim que era a praia até que quis dar nome Os irmãos. praia seca, goela fluída Lembro de afogar de boca aberta, dizendo de um sentimento arenoso, desse estou móvel. quando o céu escorre faz tremor de acontecer no clima da terra uma depressão, mas sentir a firmeza da onda dá certeza, gosto de açaí no céu da boca. faz um tempo que não vou a praia, mas guardo na Bagagem espuma, e quando o som toca os dedos shhhhh

é que tinha cinco anos quando isso aconteceu E agora? pergunto é que me sinto perdida também. mas a praia de encontro e dava nomes e foi assim que soube Sentia um Sentir procurando palavras

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Caderninho azul

Esse caderninho azul é tão manhã 
assemelhante assim ao céu das seis,


Esse grafite é frágil
quanto os amores que tenho criado,

Desde que hospedei a solidão no quarto,
quarto andar

Atrasei fonologia, roí as unhas que guardei para o dia
que esbarrasse com o carteiro no último banco do ônibus azul

O azul me esquenta

Caminho, e acima da cabeça, algumas aves
aquelas quais não sei especificar,
mas que parecem nadar no azul pacífica angústia imoral

Você também navega no meu caderninho azul,
imenso de manha quanto o céu da sua boca 



quarta-feira, 16 de maio de 2018

se for pra ir eu volto

tomo pra fora uma camada laranja a textura da tarde, prefiro o café de jejum, o corpo despreparo, tem alguma coisa for a do ângulo. rasgo folha de carta carta escrevo uma outra, de repente digo aquilo que devia ter dito, não volto mais atrás, lá distante se a gente se encontra digo volta. tem das miudezas as maioridades, o dom de proclamar tragédias e caprichar na palavra. não voltava atrás. agora diz por onde vai? se não for tarde demais.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

baião de dois

podemos prever juntas
nossos futuros,
ir à feira tardezinha
desfrutar das frutas
na mesa da sala
cozinhar arroz dia sim,
dia não

contigo
cozinhar é carinho
é dengo estar contigo
chuviscar o feijão na panela

vão dizer abobrinhas
entre o espaço
do trem e a plataforma
vamos chupar muitas uvas
e roer rapadura
e vou cutilar suas unhas
minha heroína

te dizer da rebeldia de agora
de um modo carinhoso
porque desse desjeito
é a gente se amando
só de olhar
só dos olhos

a gente vai falando
assim desjeito
feito sanfona cantando de noite
de manha a gente se ama

basta te olhar e vejo
todo o sertão colorido de si
que é bonita alegria posso
até imaginar a gente lá
na frente dançando

quinta-feira, 10 de maio de 2018

014

borrei teu nome nos versos
só pra gritar a bagunça urbana
que tu deixava em mim

no corpo grafite
rascunho indiscreto
assinado pela tua língua mundana

bebi dos lábios café
todo o líquido me abraça insônia

é que me borrava
no queimar de bocas profanas

até ficar completamente assim desnuda

na ânsia o corpo dizer
da paisagem abrir os olhos você 

410

Cheguei al auge.
Do.q7e pode.se.dizer.Walmir 
 Fontoura pode.ser diEr tanto 
Tanto.que.se faz.ah.sei urso.ou luxo 
Faz.tempo que.a.gente.se.vê.r.se.se.Faz.
Ah.desculpa.por.tropeçar.nas.intenções 
Faz o tempo 1ir se.Faz assim
Comi.2Ken sabe se e.é foi 
Desfilaram olhar caso um 
Fornecensino 

Acorde

O acorde de início quando a gente dormia.

Assim feito os goles de cachaça
o mel que a gente melava metade do corpo
ou parcialmente tudo,
ou quando se corria e morria antes de chegar.

Na praia, por terra, em qualquer lugar de harmonia.

É ali o lugar que a poesia podia se formar,
então pensei em dormir de novo,
em algum lugar exposto em teu corpo,
ciente de que alguma hora acordaríamos
"um pouco da realidade"
sabia que não vinha em doses amenas.

Dilatado, quaisquer pedaço, inexplícito
e bem ali, onde se espera poesia, corroía o dia findar.
Dormia aguardando algum dia despertar
melado, ao teu lado. 
tento outro poema/
por vez
é mera distração 
dos fatos 
as rimas não brotarem 
feito as plantas incubadas 
na varanda de Sol ate as 15h 
e mesa para fumar 

mas feito ciclo do infinito
Ou teoria Divina imagina só
Uma tela de Virgot
À'la construçiõn de Jôh 
tento de novo e de novo de novo/
novamente

desistir me parece 
aquele fim que ninguém esperou 

e bem que decidi prosseguir
confesso 
quando vi os olhos 
de esperança/espera/
no rosto de minha velha 
parecia enfim

ainda não findou a mim