terça-feira, 31 de janeiro de 2017

sou todas essas coisas, embora não o queira, no fundo confuso da minha sensibilidade fatal

lânguida
escrevo a procurar

-  além de palavras
um percurso menos pesaroso
do que me é instituído
não por causa da falta seja 
sol ou pedra no feijão 
é coisa que não se acha
mesmo no fundo

local ocupado
até pra lamúria 
mas é um desconcerto 
que assim escrevo
um tanto óbvia 
como se a dor
alegoria única 
desfilando 
à perigosa insolação 
e cólera de ócio 
fosse atestado de óbito 

enrolo o corpo
em suor ou choro e
reconheço partículas 
que nos diriam
-  vá embora 
desisto de caçar
desculpas ínfimas
a fim de decepar 
essa ânsia mínima 
enquanto escrevo 
agora 
de me degolar
no fio das memórias 

título: fragmento n.30 "livro do desassossego" f. pessoa 

domingo, 29 de janeiro de 2017

devíamos dormir mais cedo

quando a noite gritasse em cores nítidas existo! e pelos morros visto que logo em ânsia na tardinha se incendia é ali que saberíamos chegou a hora só vamos beber duas por quinze e os amendoins torrados na mesa não tem fome disso só aquilo que a gente não sabe dizer que vai passando de língua em língua até que o dinheiro como alarme mande embora dos muquifos mas olhe a rua fica acesa os carros atrás de faróis não tão distantes a gente para no meio fio ou invade algum lugar oh céus que não seja meu peito mas as pernas essas vão nos buscar até que a essa hora voar é mais do que o tempo a gente esquece mas se lembra que enquanto recitar algum poema não é tão vão só quis dizer aquilo que nem dois litros tendem a soltar vai que a noite esquece de findar 

(e a gente se acaba) 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

voltas e voltas até onde vamos?

Se fosse só medo
de retornar à escrita
feito acesso
à senha
de um cofre inviolado

Não teria que revisar a memória
a fim de encurtar
essas voltas que esgotam
o repertório que criei

Mas é que dentro
do contexto
a realidade
me parece
distante
à medida
que declino
junto às palavras 

Soaria simples
percorrer quilômetros
à velocidade desgovernada
até um encontro casual
de intenções armadas
e despejar através
do mecanismo oral o que
me é impossível escrever

Porém 

É que se fosse
só um simples caso
até o discurso pareceria direto

Mas é sempre um outro assunto
Uma conversa
que agride
até quando o ponteiro
atinge o ápice
e depois disso
é aquela história

Corro demais

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

se eu te dizer que vejo tempestade em forma de lágrima

Dei pra preferir versões mínimas
do que soaria indiscreto
dizer a ti tão indireto 
mas é que justificativas
são buscas exaustivas
depois que passa da hora de agir 

e a gente vai seguindo mesmo

nem peguei sua mão ao despedir
mas é que tava suando o sol
às vezes faz o coração bater rapidinho 
o clima incerto é só pra aliviar medo
que tenho de ser indiscreta
e te assustar mas isso é tudo
que não posso conter 

não ensinaram que é preciso
mais do que vontade pra continuar
e saber é tão bonito quando se sabe nadinha 
é nesse instante que o sorriso
abre até tempo nublado
e nem lembra do acúmulo das mágoas

"mas querida não seja tão rude assim com o que sente" 
só pega um fogo pra gente queimar 
seja lá o que do céu sobreviver 
senta deixa eu te contar 

fecha os olhos enquanto a chuva passa 

domingo, 22 de janeiro de 2017

se o dia 
por acaso 
levantar vermelho
coloca água 
pra mornar
o chá 
e pega o que tu gosta 

deita no sofá 
esquece o dia
o sono 
e lembra 
há motivo de sobra 
pra gente se esquentar 

descansada 
volta à cozinha 
enfia o saco
no copo apaga 
o fogo
depois o retorno 

rotina cinza 

sem nome

O corpo se desfez em fragmentos, fazia existir a poesia escrita agora, mas quanto ao tempo, cospe os tecidos da pele, morte ao raio do sol, a mancha existia e vazia um novo corpo passar indiferente, mas os sabia sim era um pequeno pedaço de cor ali nascida. O corpo se desfaz em meus braços, o próprio corpo sim coberto de pelo e mancha. Dia seguinte. Vejo e não tenho olhos. Envergo as curvas da sobrancelha, quem diria é o que passou. Foi um susto. Tremi a fraqueza dos ossos em pânico as chamas, o ardor do verso oral. É como um breve sonho 

inominável.
pode parecer egoísmo
falar de mim
a essa hora 
mas é que 
falo de 
você 

então dou prioridade
a qualquer voz
que soe nítida
ao escrever
você 

qualquer parte
que vive 
e morrendo 
aos fragmentos 
e eu entro
descrevendo
você 

nem precisa ler
pode parecer
que sou eu
mas não
é
você 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

E além das coisas ínfimas dentro da bagagem 
Papel de ingresso, comida envelhecida, 
as vezes guimba do cigarro que a gente fumou sem assistir 

As vezes paro e sequer penso
É que o pensamento cai como um toró de verão 
na ânsia de te falar dessa faísca presa 

Além das luzes de outros prédios 
é possível que veja seu rosto refletido num quadro grande 
exposto na sala do vizinho 

É porque aceito seu tamanho em tudo que couber pensar 

que exista espaço pra parar... 
descansa enquanto a fumaça sobe e o motor aquece 
a chama viva 

Você sabe as vezes morrer
É pequeno


breu

Estou na escuridão
Mas você vê
Tão fundo
Que subo pra te ver
Na superfície
Só o vácuo 
Ciente
De que a luz apaga
Você pisca
E o mundo retorna
Ao eixo
Mais distante
Subo
Até o cume
Procuro
Onde está?