quarta-feira, 16 de novembro de 2016

desagua

Ergo o corpo e permaneço ao chão 
Fecho as pálpebras 
mas assisto a luz da lua entrar 
com tamanha fúria! 

Daqui a falta de cor 
me parece um elogio insosso
retinas discretas, parede, teto, casa, e por acaso 
descrevo a estética do corpo 
De novo 
Tento de novo 

Movo

De quem é o corpo? 
Do que 
falar o porquê tanta pergunta? 
Me vem da boca a secura de dentro

Retorno ao corpo com a inocência 
de um filho espremido no útero, ressequido, 
e fracasso como quem abdica a mágoa dos antepassados 

choro e mingo sedento 
Não se pode parar 

Rezo sem Deus
fechadura aberta, o corpo

N
A
D
A

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

as vozes
o repertório
repetido
tanto
que parece eco
de uma memória
irremediável
a voz
no escuro
em claro
estão no mudo
convulso
barulho invisível
de bocas imóveis
o que sou
você me pergunta
piscaria se olhos tivesse
como resposta simultânea
e guardo relíquias
insubstituíveis
se palavras fossem  sons
tanta cólera por isso
esse silêncio tentei
vezes trancafiada
noite é entrada
soam vozes
geradas
murmúrio
soa lágrima no lábio inerte
e corre sincrônico
soluço
preciosa pressa
causar língua
grito desumano
severo e
indizível
cedendo relato
mínimo
abrir a boca
o instante fala
uso impreciso   palavras
sentido
só o que sinto

ver
buscando dizer

o que fomos perdido?