quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

insolação

desbotando deitada à cama
revivo o sol em seus olhos
bem perdido
como se fosse um ponteiro
de um relógio atrasado
e todos os pesadelos regressam
mesmo que o sono não entre
por intermédio das pálpebras
no meio de nós unidos entrelinhas

o pequeno calor acaricia meu peito nu
mas o verão me esgota tanto
a ponto de gingar os joelhos
em plena praça pública
só de serventia pro pleonasmo vicioso

essa estrela de fogo
digita sob minha pele ociosa
cada confissão enfurnada
dentro
de um corpo maleável
e todos os pesadelos são prelúdios
mesmo que a noite durma
sob nossas carcaças
não havendo antídoto pra vigília
da lua enquadrada acima da cidade

incolor e despida
revelo traumatismos
através da linguagem
tão sucinta que outro não notaria
esse escarçel implícito
tão acolhido
pelo sol entardecido
dentro do seu globo ocular

um planeta inteiro encolhido
e um sorriso refletido
meu busto umidamente descalço
exausto de não repousar
mas o sonho intacto
enrolado em nosso suor
estagna o tempo em fuga
e a madrugada que não tarda

todo verão contido em sóis

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