domingo, 31 de maio de 2015

perdendo a memória junto ao seu nome

quase esquecendo o seu sobrenome
junto aos vocativos que te identificam 
em mim e nas poesias que pouco a 
pouco vão te perdendo 
e se tornando mais urbanas
pois o caos da cidade é um bocado 
do que vi quando por descuido dei zoom 
em seus olhos de mutirão implorando por sossego

e quando há paz eu não existo

há uma ânsia de se ocultar que te 
faz crescer a barba e me perder é também 
se achar menos alheio 
porque não sou daqui e nunca fui

quase não te sinto
mas sinto muito
não por deixar que você escorra de 
mim como se fosse um motivo de choro 
mas por permitir que a poesia te escreva uma despedida 
sem que ouse citar o seu nome

mas, quem é você?

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Transe

Descobri que saudade é nome de rua, habita meu quarto e faz versos por mim.
Mesmo sabendo o caminho de casa me perco e volto pela metade quando encontro na rua cartas endereçadas a ninguém. Meu coração não é meu, nem teu, ele é um bicho solto que me faz subir ladeiras para seguir amores impossíveis. E eu que insisto em poetizar os olhos, descobri que há poesia no líquido que escorre de nós.
O corpo é feito para transar, pensei.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

azul-íris

olhos de medo e
passos sonâmbulos
há um brutal encontro de sonhadores no vagão das sete e quase não vejo mais aquela criança querendo sair de casa pra enfrentar um bicho maior do que o escondido dentro da caixa de ossos cansado na cama

eu escuto a buzina chorar por atenção e o suor dança enquanto a gente só quer morrer de amor mas somos atropelados pela compaixão inexistente no asfalto do centro da cidade
e destruídos são os sonhos dos homens de terno engomado
é tudo engolido e intragável desde o último resfriado porque o rio em maio é quase tão gelado quanto o som de um suspiro prolongado e sem rima
há sim muita desistência e penitência quando não usamos as palavras para dizer que o sufoco é oco como todas as obras que tentei escrever falando sobre os seus olhos de medo mesmo o dia estando tão azul-íris




Mudei o nome do blog, espero que se acostumem

terça-feira, 19 de maio de 2015

coração bomba

eu vi o seu olhar metralhar
cada letra dos meus discursos de não te querer
eu me arrependi de voltar pra casa
eu me arrependi de não deixar fios suicidas de cabelo em sua cama
ou uma marca ilegal da mão trêmula em sua nuca
querendo te devorar enquanto a minha boca já fazia isso

à noite eu ando em sua rua
sem saber o seu andar
ou onde andará você

querendo construir uma poesia sem essa de rimas ou amor platônico
eu quero foder contigo até que os olhos ardam com a luz do sol 
ultrapassando sua veneziana
pois não acredito que você irá deixar em mim
algo além de hematomas
e porque eu fico muda

mudo
o mundo tem medo

você também tem
mas há algo em seu olhar terrorista
que desafia e mata a poesia com rimas que eu pensei em te escrever

que me faz mexer na cadeira
subir ladeiras íngremes demais pra um pulmão fumante
há algo em você que me faz acreditar nos vilões
e se ouso dizer agora que me arrependo de ter voltado pra casa 
é porque quero morar na guerra que seus olhos me causam

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Devo chamar essa poesia de despedida?

devo chamar essa poesia de saudade?
ou são os seus olhos perdidos
na cidade
me atordoando
qualquer esquina endereçada
até seu nome indigente
dentro de mim
corroendo qualquer chance que tive 
de escapar sem ressaca
as olheiras condenam
sua voz desconstruiu toda prudência
que botei na cama
e fiz cafuné
porque o medo sempre esteve
até nas poesias que ocultavam o seu nome 
não é sobre o amor que as canções de amor falam
é sobre o nosso cansaço
mas eu também estou suada
e há tempos não arrumo o quarto
não falam de você nos grandes clássicos
porque é só mais um
joão-
ninguém
reparou que os prédios estão muito altos
enquanto a gente se aperta
nas ruas que sobram
quase nada nos resta
mesmo te olhando distraída enquanto recita
obras de Fernando Pessoa ou a garota da rua São Clemente
eu admito que continuo escrevendo minúsculo
querendo diminuir esse escarcéu tão imenso
quanto o seu silêncio de rotina
ninguém nos sobra

só essa saudade maior do que os prédios do bairro restou
recordando que o título vem depois do poema
e você não

domingo, 3 de maio de 2015

cartas na rua

você permanece  
em mim  
apenas dentro  do espaço  
guardado  
para esquecer insanidades platônicas 
pendurado  
pelo pescoço  
cantando blasfêmias  
sobre o tal amor que tanto renega a finco sob o sol da tarde  
só seus olhos  
se conservam intactos 
quando olho  
para o infinito  
e te pinto em memórias invisíveis  
a quem não acredita em acasos 
são tantas  
poesias bordadas com o seu nome gigantesco  
imagine o amor sendo uma farsa  
a favor da arte marginalizada  
por Deuses modernistas 
só o meu desapego  
virou rotina 
quando atravesso um quarteirão inteiro para te perder de vista 
não são as minhas palavras que te movem  
mas estou sempre te dando vida nas poesias...  
(sou turista no amor) 
mas abrigo  
o meu coração em sua porta 
 para achar  
entrada  
quando houver  
um descuido seu ao sair para entregar as malditas cartas,  
carteiro 
são tantas cartas  

e nenhuma notícia sua