terça-feira, 28 de abril de 2015

não reclamo do temporal se você molha os meus olhos de garoa

não temo a fúria do tempo
nem as nuvens ruidosas penduradas
no céu chorando desde o verão passado
são uns 60 passos até a sua cama
e no fundo as cores das meias que usa são extravagantes demais
deixo a poesia na cômoda
e lavo os cabelos com água fervente
pois a alma precisa de um sossego
antes de adormecer com gosto de café e saudade do sol

o burburinho dos ônibus que não param em meu ponto
fazem o ritmo assíduo da poesia renascer
ter que aturar as tardes de domingo é um aviso de que não há segurança
nem em seus olhos brandos
é tudo isso que machuca
acho que a humanidade vendeu também a paz

debaixo desse viaduto do Humaitá
a luz das estrelas se atreve a ultrapassar mas posso ver o seu sorriso se escondendo
atrás de um muro de Berlim
contou as mágoas estocadas na mochila?
minha poesia está guardada na garganta e todo grito é sim desespero
pois o tempo nasce em mim apodrecendo o seu nome
sufocando a vontade de amar antes do sol me erguer da cama
às seis e meia na segunda-feira

sempre que o céu desaba você vira um pouco de tempestade
molhando
sem compostura
o meu corpo submisso
e apagando a ponta do cigarro que fumo 
pra esquecer que você se tornou insônia nos domingos de chuva

2 comentários:

  1. " é tudo isso que machuca
    acho que a humanidade vendeu também a paz" talvez a filosofia precisasse de umas seis páginas para explicar o que você disse, nesse belo poema.
    Saúdo teu mundo criativo.
    Obrigado.

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  2. Quantas sensações nesse poema tão carregado de humanidade! "Não há segurança nem em seus olhos brandos" é tão bonito e tão inquietador quanto é verdade. Que mania a nossa de precisar constantemente da segurança!
    Teu poema é maravilhoso.

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