segunda-feira, 1 de setembro de 2014

401

Se me procurar ainda estarei no mesmo bairro cinza
com os vizinhos a protestarem o meu sumiço, os pés descalços
conta da luz atrasada e o violão desafinado
prestes a compor uma canção sobre partidas
para disfarçar o coração partido

Bebendo vinhos sem safra que me abrasam as paredes da alma
incendiando fotos e cartas profanas
sustando e molestando sonhos riscados da lista
me desfazendo da gramática e da poesia
como quem se despe de uma roupa que não lhe cabe

Eu não sei mais as cifras para poder tocar
e nem os rituais que me salvariam dessa maré de azar
não sei o que estou fazendo da vida
mas tenho certeza que não é isso que eu pretendia

6 comentários:

  1. Da vida, você faz poemas lindos e algumas almas alegres, como a minha.
    Bem vinda à parte doída da beleza criativa, um abraço alegre em seu coração.

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  2. Gyzelle, te respondi no meu blog em outro computador, mas não aparece nesse aqui. Ah sei lá ... respostas nesse computador aqui, parecem ser casos de observação, como se observa a vida ...
    saudações!

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  3. Olha, posso dizer que sinto o mesmo nesse exato momento. Talvez devido a circunstâncias análogas, sofrimentos parecidos. Onde é que você mora mesmo? Tão longe por que? Rsrs. É difícil se reorganizar depois de tanto tempo de um certo modo de se funcionar, assim juntos, mãos dadas, futuros dados,e de repente, são dados jogados ao acaso, sem mãos dadas e nem pés juntos debaixo do lençol, nem cabeças se batendo durante o amor, e pior, nada de dois corações para se aquecerem juntos em uma noite fria, ou chuvosa, ou qualquer outra.

    Gyzelle... Parabéns pela sua escrita. É sensacional. Sempre mexe comigo de uma forma inexplicável.

    Bjs

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  4. E acho que o mais tenso disso tudo, é que não serve quaisquer mãos, ou pés ou cabeças ou corações. Só valeria se fossem os mesmos. E isso é que fode com tudo. Já procurei todos esses membros e amor em outras pessoas e foi frustrante.

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  5. Quando não sabemos mais onde nos achar. Tenho essa sensação "fico perdida na fronteira do sórdido acaso"

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  6. Ainda há você, a poesia e a sombra de Anteros. Não se sinta só. Um abraço.

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