sábado, 17 de maio de 2014

Seu sangue é vermelho impuro

Traço-te na mesa, no beco, na cama
Com a ponta fina da minha caneta
Transformo suas digitais de rugas
Em linhas cansadas
Pairadas no branco
E você não reclama a cópia que faço de ti
Pois sabe que são seus parágrafos que me traçam

Invoco-te nas minhas poesias
Coloco a sua identidade nas linhas obedientes
Desse diário matinal
Que é o meu corpo vulcânico
A minha língua te recita toda noite de eclipse
Nosso leito é tão vulgar

Suas cores tão exatas não existem na aquarela
Por isso não te pinto
Deixo-te sem cor, nu, translúcido
Só para te enquadrar melhor na tela

Esse amor tão fragil
Marginal e vanguardista
Eu inventei para nós dois
Por intermédio de meus versos artistas

Desenho o seu esboço como tatuagem na areia
O mar se revolta
E te rouba
Acho que você nunca será meu, Plebeu
Seu sangue é impuro
E a minha caneta é azul

2 comentários:

  1. alguns símbolos são impossíveis em lagoa parada... Flaubert perguntava se era possível escrever sem dor. A dor e a distância permitem a suspeita, fundamental na literatura, complicada na vida em geral...

    um abraço


    Yukio Mishima

    "True beauty is something that attacks, overpowers, robs, and finally destroys.”

    Cruz e Sousa - Encarnação

    carnais, sejam carnais tantos desejos,
    carnais, sejam carnais tantos anseios,
    palpitações e frêmitos e enleios,
    das harpas da emoção tantos arpejos...
    Sonhos, que vão, por trêmulos adejos,
    à noite, ao luar, intumescer os seios
    láteos, de finos e azulados veios
    de virgindade, de pudor, de pejos...
    sejam carnais todos os sonhos brumos
    de estranhos, vagos, estrelados rumos
    onde as visões do amor dormem geladas...

    Rainer Maria Rilke - O Mundo Exposto no Rosto da Amada [trans. ramonlvdiaz]

    o mundo se expôs no rosto da amada
    e de repente, sublime, desapareceu
    no mundo fora de qualquer alcance.

    por que não absorvi nosso encontro
    em meus lábios e deixei acontecer o
    a proximidade do mundo equidistante?

    ah, mas eu bebi. com que sede eu bebi.
    mas antes já estava totalmente imerso
    no mundo - enquanto conhecia teu sabor eu já transbordava.

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  2. Boa tarde Gyzelle.. cada vez que aqui venho me surpreendo com o desenrolar dos teus versos.. sempre com uma linguagem forte, que nos mostra que muita coisa esta escondida dos nossos olhos humanos sempre vendo as mesmas coisas corriqueiras.. gosto muito de ter ler.. abraços e até sempre

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