sexta-feira, 19 de abril de 2013

O diploma

Sobressaltada por um gozo de memórias
Queima essa lacuna que me faz escrever,
Eu não creio no que vivo
Vivo escrevendo o que creio
E na filosofia da imensidão de palavras insanas
Eu zombo da minha agonia.

Que desculpe-me por esse poema falho
Por um mundo tão errado
E eu aqui errante
Errante, solitária e triste.

Escrevendo,
Um parágrafo a mais e respiro aliviada
Uma página em branco de uma vida borrada
Uns sonhos destroçados
Por um mundo tão errado.

Eu não conheço a mim mesma,
Escrevo e acabo encontrando a face fêmea,
Findo sabendo da abstinência de paz
Grades por toda a parte me impedem de gemer

E eu só quero que essa tristeza aqui dê um tempinho
Eu imploro que ela procure outro caminho
Dou passagem, canto e escrevo
Mas ela não quer arredar o pé

Gírias de uma mulher diplomada
Bacharel na própria dor
Presidente de uma corriqueira desilusão
Condenada a viver sem ópio, em vão.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

O romantismo literário feito para ela

11/04/13


Eu tenho certeza que deveria começar escrevendo como sinto-me neste velho e acolchoado diário, só que ao pegar a caneta acabo ficando totalmente eufórico para contar o meu dia, eu sei que você, querido diário, não acredita mais em mim e em minhas efemeridades literárias, reconheço que tenho aquela mania de criar situações e personagens, mas dessa vez eu peço um pouco de sua credibilidade e atenção.

Acordei bem cedo, tomei um nescafé com biscoitos amanteigados e decidi ir ao sebo da próxima rua e acredite, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido na minha vida pasma. Chegando lá o cheiro de livro antigo deu boas vindas, logo a infinidade de livros entonteceu, findei decidindo começar pela última estante de livros estrangeiros e num relance de olhos, eles pararam em uma mulher que estava com um livro nas mãos e os olhos nele. Não acho que será preciso descrever com tantas palavras aquela que estava diante meus olhos e ao mesmo tempo, tão distante de mim. Ela era alva como as páginas do livro que lia, os cabelos escuros como a noite passada que não teve lua e naquela escuridão um laço de fita vermelho enlaçava-o, apenas um vestido de flores pequeninas encobriam aquele corpo delicado. Eu tive ali a certeza que depois de chocolate branco, ela era a coisa que eu mais amava no mundo. E aquele amor ficaria guardado para todo sempre em mim, como um livro, e eu sofri por antecipação. Ela estava explorando aquela capa dura e abriu um sorriso, um sorriso tão destrambelhado e nos dentes ela tinha um metalzinho delicado e azul, que me fez sorrir junto, um sorriso angustiado pois eu daria meu eu para ser aquele metal parasita. Ela folheava como se estivesse fazendo carinho naquelas folhas e acabei aproximando um pouco mais, com o coração batendo tão violentamente que até o espanhol da padaria talvez estivesse ouvindo o ritmo. Ela me olhou e nesse instante as batidas cessaram, o sangue gelou, a barriga estremeceu, a vontade de vomitar apareceu: aqueles olhos de raposa eram hipnóticos, floridos como a primavera. Logo depois ela fechou o livro e colocou-o no devido espacinho, ajeitou a bolsa de pano que estava escapando do próprio ombro e saiu da livraria. Eu não acreditei que ela tinha ido embora tão de repente e corri até a rua, mas eu não mais a vi, ela havia sumido e eu queria poder terminar esse escrito contando algo feliz, como nos meus contos imaginários. E estou pensando em abrir um sebo na próxima rua só para ver se a mulher primaveril aparece para reanimar meu coração desesperado por esse amor literário. Querido diário, peço que não se preocupe, eu não o colocaria nas estantes para viver empoeirado na solidão, como eu, que encontro-me nesse apartamento mofado.