segunda-feira, 4 de março de 2013

Moléstia de saudade

Me abrace? Isso não foi uma pergunta e sim despedida tão sólida e real quanto ser devorado por selvagens. O mórbido de minha cantoria vira rotina das mesas de bar que estão vazias. Lá vem mais um corpo sem alma a desfilar com sua dor, mostrando-a tão distraidamente como se fosse seu litúrgico troféu! Lá vai ele com sua saudade a martelar da cabeça aos dedos cansados dos pés! Tantos julgamentos a um homem que o único erro foi amar, maldito amor!

Depois da despedida fui caminhando por becos pouco iluminado e tragava o cigarro no canto da boca com tamanha força que chegava a sufocar, logo jogava aquela rajada de fumaça pra fora com um longo e exasperado suspiro e fungava fundo também em concordância com os olhos que não paravam de inundar-se repetidamente. Comprei a garrafa mais barata de vodka para limpar de vez aquela mancha avermelhada que o coração arrebentado havia deixado, seria inútil, aquela hemorragia era grande demais para todas as bebidas existentes, grande demais para minha pouca saúde física e mental. De súbito, comecei a rir, gargalhar, gemer, resmungar, uma explosão que me fez cair. Acordei no dia seguinte vendo todos aqueles olhos cheios de olheiras amanhecidas, levantei e para casa fui, o rumo foi difícil, não conseguia reconhecer a mim mesmo mas eu cheguei... Corri para nossas fotos e ah! Curei-me... Estava novamente apaixonado por ela!

E se ela voltar, aqui estarei. Todos os dias escrevo-lhe cartas, estão em cima da mesa de madeira herdada de um familiar qualquer, os cigarros eu sou capaz de largar se ela voltar! Ela sabe o quanto a amo? Amo aquela mulher de cabelos escuros, dos olhos de felina levemente cândidos. Amo os laços que ela usa nos cabelos, do cheiro de café que vêm de seus lábios carnudos, amo aquela voz ligeiramente louca. Amo aquele sorriso que me faz o homem mais feliz que já vi, amo-a tão demasiadamente que esqueço quem fui, sou e serei, esqueço que existo para contemplar a existência daquela mulher. Se a mim ela volta, beijarei-a em todos os momentos, longos e demorados beijos seguidos de carícias e abraços. O abraço... E se ela volta eu peço que abrace-me e logo esqueço de tudo, nada mais peço depois, só que ela acabe com a minha saudade que já sufoca.

Um comentário:

  1. Boa tarde nobre poetisa, depois de impregnado de alguém, é muito difícil, um dependente amoroso alforriar-se.
    Parabéns pelo seu contundente poema, um grande abraço, MJ.

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