quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Chico rimador

Francisco queria saber viver,
conhecido por Chico
por poucos, pois poucos o conheciam.

Chico trabalhou por toda vida
Sem receber méritos
Ou dinheiro que sobrasse.

Aos quarenta Chico soube da moléstia,
com seu salário bagatela,
não podia curar-se.

Levantava antes de acordar,
não tinha sossego
vida de trabalhador.

Filho ele não tinha
mulher não tinha
era um sem-família.

A música que ouvia era ócio noturno,
sua história de vida
é menor que essa poesia.

Casa de Chico só tinha um quarto
nesse quarto nada cabia,
não cabia sua exacerbada agonia

Chico era remador
remava todos os dias,
só assim aliviava a própria melancolia

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Migalha de alma

Esse é nosso fim, meu amado
Vamos desmascarar a descartável felicidade
Que insiste em nos destroçar gentilmente
Vagarosamente 

Você vicia e enche meu copo de agonia
Enlaço a verdade orgânica no pescoço
E vejo seu gozo com exaustão 

Essa é a minha despedida
Saio com a coluna vertebral inflamada
Sua roupa deixei engomada
Levo na bagagem as dores dessa farsa
Junto aos trapos e lâminas que a mim você ofertou 

Esse é o cínico desfecho de um amor

Acaba a valentia de tu, homem!
Sua mulher hoje foi embora
E você,
valente! Chora.

À calmaria da minha paixão
Sem vinganças a ti deixo m'alma
Migalha de alma!
O que sobrou de mim!
Piedade e Arranhão
Esse é o lastimoso fim de uma mulher quando a um homem entrega o coração.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Réquiem teatral

Como de clichê o céu era um borrão cinzento,
Lama das estrelas.
As flores campestres se diluviando
Por entre meus dedos,
Queriam escapar daquele tristonho fim.

Tocava um lúgubre réquiem
Tão afoito e desajeitado quanto a platéia,
Fazendo uma litúrgica homenagem ensaiada.

Olhos - mãos - barriga - corpo, a tremer
Um coração estático,
Certeza de que não irá mais agonizar.

Falsas lágrimas a rolar de órbitas profundas,
Apodrecidas orações ao cadáver,
Alívio pela vida,
Lamentos pela morte.

Quando viva a pobre alma amada não foi
Hoje, estagnada, é fortemente idolatrada
Mofina beleza que foi deixava.
Em vida morria de fome para perder gordura,
Enfim caveira, oh! Formosura.

Todos de preto lamentando o respeito à mortícia
Eu, de vermelho, a contemplar o meu amor
Funéreo romance,
Seu pálido rosto me deixou absorto.
A lápide em chamas borbulha, era alérgica a flores
Ela é minha rainha, veja a sua coroa!

O caixão desfila, deslumbrante
Perfeitamente envernizado
O show da agonia finalmente chega ao fim
Estou distante dela, cravada ao chão como planta
Com o término que sempre almejou:
És flor