sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Acordar perdedor

Despertei por súbito, deparado com aqueles olhos enormes, de cima, devorando-me. Os meus arregalados; os dela ainda mais, no entanto, pacíficos. Aqueles cristais descrevo por profundos e azulados, furtados de-cor, do azul claro quanto ao mais escuro, de escala mais bonita do que as cores do céu. Naquela imensidão de olhos eu mergulho, por apneia, só para permanecer mais tempo dentro deles. E agora ela sorria de lado como quem zomba. Nela eu me perdia e me perdia dentro dela. Oh! Seu aroma de lima por meus vasos vazava, dentro do meu corpo, dela eu absorvia um pouquinho.

Agora a observava também, por minúcia, os cílios, em cena, ao dançar, as suas pétalas. Perguntei O que quer?, mas já sabia desde muito. Não fora preciso que abrisse os lábios ou minha boca com um beijo, por silêncio dizia-me Vou. Iria. Eu só precisaria que o sol dormisse, para tê-la novamente nessa medíocre cama, com cheiro de sujeira, com modo de perdedor, à espreita de que solidão me acorde de novo.